sábado, 11 de outubro de 2014

E ela levava as mãos à água, mergulhava os dedos na película imóvel que uma armação de lodo seco sustentava, nos limites dum poço arquitectada. Molhava o rosto, mas para tal primeiro mexia com os dedos na água, e desenhavam-se círculos uniformes, movendo-se para as margens. Havia um reflexo que oscilava quase até a obrigar a mergulhar nele os dedos os pulsos ou os braços, para suster algo que parecia escapar-lhe, afundando-se na água, como uma folha desmembrando-se lentamente. Era a sua imagem e no entanto era-lhe difícil reconhecer os olhos que a observavam entre os vincos da superfície vítrea, nos intervalos das membranas que se sucediam e que negavam à sua face a transparência prometida à água, a claridade que os espelhos imitam sem exactidão, pois desconhecem o perigo, a possibilidade duma pedra ou duma lágrima que invada a sua vulva quieta sempre aberta, susceptível de ser violada por uma aragem, um fio de sol, uma palavra pronunciada por alguém que encostasse às pedras os lábios que circundam o silencioso magma, vale de silêncios onde a sua imagem para sempre retida estremecia quando ele (tu?) passa (passas?) lá no alto das montanhas espelhadas.

Sem comentários:

Enviar um comentário