E ela levava as
mãos à água, mergulhava os dedos na película imóvel que uma armação de lodo
seco sustentava, nos limites dum poço arquitectada. Molhava o rosto, mas para
tal primeiro mexia com os dedos na água, e desenhavam-se círculos uniformes,
movendo-se para as margens. Havia um reflexo que oscilava quase até a obrigar a
mergulhar nele os dedos os pulsos ou os braços, para suster algo que parecia
escapar-lhe, afundando-se na água, como uma folha desmembrando-se lentamente.
Era a sua imagem e no entanto era-lhe difícil reconhecer os olhos que a
observavam entre os vincos da superfície vítrea, nos intervalos das membranas que
se sucediam e que negavam à sua face a transparência prometida à água, a
claridade que os espelhos imitam sem exactidão, pois desconhecem o perigo, a
possibilidade duma pedra ou duma lágrima que invada a sua vulva quieta sempre
aberta, susceptível de ser violada por uma aragem, um fio de sol, uma palavra
pronunciada por alguém que encostasse às pedras os lábios que circundam o
silencioso magma, vale de silêncios onde a sua imagem para sempre retida
estremecia quando ele (tu?) passa (passas?) lá no alto das montanhas
espelhadas.
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