Vejo-te além recostado contra o
dique de Havana, a camisa aberta e sandálias e [grandes óculos
escuros,
à tua esquerda ergue-se o Morro
e, ao fundo, à tua direita, um barco petroleiro [rumo ao horizonte,
a balaustrada brilha inundada
de sol e sobre ela recorta-se a sombra do teu [braço,
devem ser onze da manhã, que
fazes aí Blas de Otero, estás a olhar para quê ligeiramente inclinado para as
fachadas carcomidas pelo salitre,
em que pensas, aonde irás
quando interromperes o que estás a fazer e seguires [o teu caminho,
vais subir pelo Prado, ou por
Águila, ou irás até à Rampa, tu o basco universal [mas menos vaidoso que o
moguerenho,
tu, vagabundo, poeta maldito da
burguesia e da polícia e simplesmente da CIA,
que fazes aí no dique, de costas
para Miami como Maceo ou qualquer cidadão [decente,
onde vives, se é que vives
nalgum sítio, no Havana Livre, na Víbora, no Riviera,
ou simplesmente no meio da Revolução,
abrindo os olhos até às sobrancelhas para aprenderes tudo o que há de bom, e o
talvez evitável,
tu calas,
tu continuas apoiado contra o
dique
com a tua camisa despida
e a tua alma despida
e a tua palavra sempre prestes
a brotar para resguardar a vida e a justiça
e a [dignidade
e a paz e a violência de que
precisam os pobres do mundo aos quais
há muitos anos entregaste
definitivamente a tua sorte.
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