“Final do
jogo” tematiza a emergência da adolescência como jornada identitária, a partir de
um jogo que três raparigas encenam diariamente num caminho-de-ferro. Esse jogo
constitui a dimensão performativa, tacteante, desse projecto de maioridade,
definido num espaço de viagem (identitário, por definição, segundo Guattari). O
espaço do jogo constitui um reino alheado
do mundo da casa, através de uma passagem iniciática
para um progressivo afastamento do espaço topofílico (Bachelard), do espaço da
casa familiar, passagem essa necessária para a construção da individualidade.
A entrada em jogo de um quarto
elemento, figura masculina erotizada, serve de pretexto à vocação de
individuação das três raparigas, que até então se dispunham numa ordem gregária
apaziguada, despoletando nelas a dimensão ambígua das relações adultas
(dispostas entre eros e tânatos) que agudiza a alteridade mútua,
vista conflitualmente como déficit
(Freud), passo necessário à gestação da identidade (Ricoeur). Pouco a pouco,
elas vão descobrindo o mundo das relações ao modo do negócio, da diferenciação,
o qual anula o ócio da brincadeira infantil, prenunciando o final do jogo, o final do espaço lúdico (Schiller)
como espaço da ilusão do real,
descobrindo a tristeza, a mentira e a morte.
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